sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Jamais

Revelações e mistérios,
vendidos na porta de uma igreja.
Hoje o conhecimento,
amanhã o purgatório.

A caveira sorri,
os ossos escancarados
mostrando seu vazio maior,
nunca a distorção.

Desespero,
desvario esvaziado.

Mordaças,
mãos amarradas.
A testemunha
é a maior vítima.

Temos medo,
reféns de uma
realidade assombrada.
Sou toda ausência
Sou quem se perdeu
Ah, que hoje tudo
É o mais puro silêncio...
Silêncio de encantos
por todos os cantos
Tenho o mundo nas mãos,
E ando por todas as direções.
Conheço a vida e suas várias faces.
Flui como o sangue,
Jogado e achado,
Hoje e ontem.
Passado manchado.
Pesado passado.
À guerra!
A forja reclama o heroísmo,
O heroísmo reclama as espadas,
As espadas reclamam mais sangue.
Sem vontade, erguem-se
Os monstros de outras eras.
O terror, o terror!
Sem temor, todos
Arrastam-se,
Contemplam resquícios,
E atiram-se ao nada.
A luz abre mão
de versos invertidos.
Sombras gêmeas acenam
de múltiplas direções,
atadas e distanciadas
a um só tempo.

sábado, 1 de agosto de 2009

O Espanto

O espanto começa pela boca,
a escancarada realidade fazendo-nos atônitos
com um borrão em nossos planos.

O espelho volta-se
para outros pensamentos,
e a fera exige as lacunas imóveis
de outros tempos.

Folhas ao chão,
sol encoberto por nuvens pesarosas,
testemunhas de nossas passagens.

A mão consoladora afasta-se:
eu a feri.
Tenho agora as nuvens
e a solidão
por comapanhia.
Esta miséria é fardo
apenas meu.

O chão desaparece,
não porque flutuo,
mas porque caio.

A queda é brutal e acentuada,
sinto tudo e nada.

Todas as vozes
e imagens distanciadas,
vidas distanciadas,
por quantas vezes?

Paixões distorcidas,
multidão multi-colorida
em meio ao meu inverno
de sentir.

Tenho novamente
a certeza
de não partir.

Quanto tempo ainda,
para lamúrias?

Sei o que dirão,
os discursos acusatórios,
o arrebatamento fingido,
o alívio dissimulado,
as línguas afiando-se,
mãos invisíveis
estrangulando o que me resta
de mim.

Não há fim,
há tão somente
o espanto
em se perder.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Corpo

A queda,
a tempestade,
o frio.

Luzes e terror,
solidão e tremores.

Criança,
por que choras
uma dor tão pequena?

Também eu conheço
essa febre,
esse tremor,
estes delírios,
esta loucura
e estas dores
que paralisam.

Não paramos no tempo, contudo.
Eu e você aqui,
eu que sou você,
daqui a doze anos talvez,
recordando-se de lampejos.

Vejo mil faces, ou sete,
todas espantadas,
e sou menor.

Sou menor porque tenho medo,
quem se lembrará da vívida sombra,
aquela em eterna queda?

Sou menor porque esvazio
todos os sentidos,
contrario condições...
imposições.

Não sou luz nem sombra,
sequer tenho identidade,
mas alguém me chama
de longe...
outros lamentos.

Imobilidade das vontades.
Desejo o céu,
e vejo luzes artificiais,
intermitentes
como uma febre.

Uma porção de liberdade,
no meio da loucura,
asas da insanidade
e vida automática.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Existo
com objetivo.
Existo
sem motivo.

Quisera eu existir
para contemplar-te,
para sublimar no toque.

Quisera eu existir
e saber o que há
no divino coração
do mundo que nasce.
É o momento entre o dizer e o não dizer.
Entre ousar e não ousar,
a escolha entre viver e não viver.
A maneira e as formas vêem,
e vemos o que há além do vento,
sabemos o que há por trás do intento.

Inventores.
Inventores perdidos na criação.
Nosso outro mundo
deixa agora de ser palpável.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Fantasmas e suas correntes
arrastadas na madrugada.
Riem, riem francamente
das almas penadas em vida.
Divertem-se com os sermões do sábado,
com o dízimo do domingo,
e com a alcunha de diabos.
Adentram as casas, com música ensaiada:
A vida é que é inquietante,
vivos sempre sorumbáticos, desconsolados,
rondam e matam até que encontram novo inimigo.
Soterrando os soldados de papelão, novo terror criado.

Viver em carne e osso, sina marcada:
Morte durante a semana, bem durante
a labuta estática ou a madrugada.
Ainda durante a overdose de tédio que se faz galante:
roupas de funeral de virgem para a jovem entorpecida.
Mais uma alma, mais um querido ente-
Desejado ente querido.
A foice sem sombra e sem som tem uma mão sufocante
que a tempo pousa sobre as horas de estafa e solidão da velha adormecida.
Estes fantasmas que conheço, apreciam boa companhia,
celebrarão noite e dia com a outra alma ainda aturdida-
que só se esquecerá daqui a milhões de dias.
Fantasmas com lembranças nubladas em dança circundante
pelas estrelas, constelações no Além-Vida.