sábado, 1 de agosto de 2009

O Espanto

O espanto começa pela boca,
a escancarada realidade fazendo-nos atônitos
com um borrão em nossos planos.

O espelho volta-se
para outros pensamentos,
e a fera exige as lacunas imóveis
de outros tempos.

Folhas ao chão,
sol encoberto por nuvens pesarosas,
testemunhas de nossas passagens.

A mão consoladora afasta-se:
eu a feri.
Tenho agora as nuvens
e a solidão
por comapanhia.
Esta miséria é fardo
apenas meu.

O chão desaparece,
não porque flutuo,
mas porque caio.

A queda é brutal e acentuada,
sinto tudo e nada.

Todas as vozes
e imagens distanciadas,
vidas distanciadas,
por quantas vezes?

Paixões distorcidas,
multidão multi-colorida
em meio ao meu inverno
de sentir.

Tenho novamente
a certeza
de não partir.

Quanto tempo ainda,
para lamúrias?

Sei o que dirão,
os discursos acusatórios,
o arrebatamento fingido,
o alívio dissimulado,
as línguas afiando-se,
mãos invisíveis
estrangulando o que me resta
de mim.

Não há fim,
há tão somente
o espanto
em se perder.